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09/08/2022 às 09h33min - Atualizada em 09/08/2022 às 09h33min

Incêndio afeta dispositivo de segurança de barragem em risco de rompimento

A Vale confirmou o estrago no equipamento para medir pressão da água dentro da estrutura

Em risco iminente de rompimento desde 2019, a barragem B3/B4 da Vale, no distrito de São Sebastião das Águas Claras, conhecido como Macacos, em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, teve o sistema de segurança afetado por um incêndio ocorrido na semana passada. A mineradora confirma que ao menos um piezômetro, instrumento necessário para medir a pressão da água dentro da estrutura, foi atingido pelas chamas. Mas, extraoficialmente, fontes do Corpo de Bombeiros informam que foram seis dos 16 existentes. Especialistas alertam que o dano no dispositivo, sobretudo em uma barragem em nível máximo de alerta, afeta diretamente o monitoramento das condições da barragem e coloca a população em risco.  

Segundo a Vale, o incêndio ocorreu na noite da última terça-feira (2). Os bombeiros foram acionados pela empresa na noite daquele dia e na madrugada o fogo havia sido debelado. Conforme informações do Corpo de Bombeiros, as chamas tiveram início em uma área de reflorestamento. Ao todo, seis militares trabalharam na ocorrência, que durou cerca de três horas. A área queimada foi de aproximadamente cinco hectares. As causas do incidente ainda estão sendo apuradas. À distância ainda é possível ver as marcas do incêndio no talude (estrutura do entorno da barragem). 

Em nota, a mineradora diz que “o fogo, apesar de ter atingido parte da barragem, não alterou suas condições de segurança, nem impactou no monitoramento da estrutura, que segue sendo monitorada 24 horas por dia, sete dias por semana”. A empresa garante que nesta quarta-feira (10) o instrumento afetado vai passar por manutenção. 

Ativista e ex-superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Júlio Grilo, destaca que a situação não é tão simples assim. Ele lembra que a barragem está em nível máximo de emergência pelos parâmetros da Agência Nacional de Mineração (ANM), o que significa na prática que uma ruptura pode acontecer a qualquer momento.

Segundo o especialista, quando se perde piezômetros, a situação fica ainda mais preocupante, já que se perdem também as informações sobre a segurança da estrutura. “Uma barragem como essa precisa de atenção plena 24 horas por dia, sete dias por semana. Quando se perde o piezômetro, perde-se a capacidade de verificar com antecedência a situação real da barragem”, diz ele. Segundo o especialista, a leitura dos piezômetros deve ser feita todos os dias, e o sensor deve estar conectado em tempo real com um sistema de gestão dos sensores, justamente para garantir a segurança da barragem.

Ainda segundo o especialista, não importa a quantidade de equipamentos destruídos neste incêndio. Como cada instrumento é instalado em um ponto diferente, a ausência de apenas um já significa que algum trecho da estrutura ficou descoberto.

Bruno Milanez, professor da faculdade de engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e coordenador do projeto de Olho na Cfem (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais), também salienta a importância dos piezômetros. “Se há menos piezômetros e se a condição da barragem piorar, pode ser que não se capture informações relevantes de segurança”, afirma.

A importância do pleno funcionamento dos equipamentos ficou evidente na época do rompimento da Mina do Córrego de Feijão, em Brumadinho, em janeiro de 2019. Poucos dias antes da tragédia, a Vale foi informada de que medições de quatro de 46 piezômetos automatizados tiveram problemas de configuração. A informação consta em documento publicado pela própria mineradora no dia 12 de fevereiro de 2019. Na nota, a mineradora explicou que a questão teria sido corrigida antes da tragédia, indicando que não teria ocorrido elevação do nível de água da barragem. Durante as investigações das possíveis causas para a maior tragédia em perdas humanas ocorrida no país, a Polícia Federal identificou e-mails trocados entre profissionais da Vale que falavam sobre identificação prévia de problemas nos dados registrados nos sensores.

Segundo Milanez, apesar da urgente necessidade de se corrigir os danos ocorridos ao dispositivo, a troca do equipamento também exige atenção. Quando se trata de uma barragem em nível máximo de emergência - como a B3/B4 - os riscos inclusive à vida dos trabalhadores é iminente. “Quando se trata de uma barragem em nível 3, a princípio, é preocupante ter trabalhadores colocando piezômetros. Qual será a condição desses trabalhadores? Vão chegar lá de carro, caminhão, como a segurança deles será garantida?”, indaga Milanez.

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