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11/02/2023 às 09h40min - Atualizada em 11/02/2023 às 09h40min

​'Brincadeiras sexuais' entre estudantes atormentam pais na volta às aulas em MG

Especialistas destacam que o tema precisa ser abordado entre os professores e os pais dos alunos e que redes sociais podem impulsionar novas 'brincadeiras'

"Eu tenho medo, principalmente porque existem crianças que não tem um acompanhamento adequado". O relato é da atriz Letícia Sirlan, de 29, mãe de duas meninas, de 5 e de 9 anos, estudantes da rede municipal de ensino de Belo Horizonte. Ela, que afirma se sentir aliviada com o retorno do ano letivo, revela também ficar preocupada com o distanciamento das meninas. Para ela, a escola, que deveria ser um local de aprendizagem e desenvolvimento, tem se tornado um ambiente inseguro, principalmente por causa de "brincadeiras", algumas delas erotizadas, que são, em sua maioria, impulsionadas pela internet. "Fica essa situação porque muitos pais não falam sobre isso com seus filhos, não conversam sobre sexo porque sentem medo das crianças começarem a ter relações, a namorar mais cedo", completa.

Embora não tenham registros confirmados, os pais relatam preocupação com uma suposta brincadeira que teria ocorrido em escolas de Belo Horizonte durante o último ano letivo. Trata-se da "dança da cadeira sexual", que já teria ocorrido em escolas de outros Estados, como o Rio de Janeiro, e de outros países como a Espanha. A brincadeira determina que os meninos fiquem sentados e as meninas dançam no ritmo da música que está tocando. Quando a música acaba, a menina deve sentar no colo de um dos meninos. Conforme as regras, os meninos deixam a roda conforme ejaculam e vence aquele que permanecer até o final.

A Secretaria Municipal de Educação, órgão da prefeitura de Belo Horizonte que é responsável por algumas das instituições de ensino da capital, afirma que não foi identificada nenhuma prática similar à citada durante todo o último ano letivo. A Secretaria Estadual de Educação, pasta do Governo do Estado, reforça a negativa e afirma que "não foi registrado nenhuma situação ou prática deste tipo dentro de uma escola da rede pública estadual de ensino". A Polícia Militar também não possui registros de boletins de ocorrência que relatam sobre a situação.

Para a neuropsicóloga Júlia Costa, que é especializada no atendimento de casos de abuso sexual, esse é um tema que preocupa e que muitas vezes é ignorado pelos responsáveis pelas crianças e pelas instituições de ensino. "Já tive pacientes, por exemplo, que passaram por alguma situação de abuso em escolas e que os pais não fizeram nada. Eles têm medo de denunciar, não fazem nada. Mas as pessoas precisam entender, tanto os pais quanto as escolas, que isso precisa ser registrado para que se tenha uma estatística sobre essa situação e que possamos atuar de maneira correta, com conhecimento do que ocorre", explica.

Costa considera que os casos de abusos, principalmente aqueles que acontecem em brincadeiras envolvendo crianças, são consequências da falta de informação e do acesso desregrado e sem acompanhamento às redes sociais. "Isso tem aumentado muito e acaba refletindo na escola e em todos os ambientes em que as crianças estão presentes.  Só que a gente precisa entender que a criança que abusa também é vítima, isso porque ela aprendeu aquilo em algum lugar e ela só reproduz. Se a escola ou a família não der um basta, isso vai ser repetitivo", completa a neuropsicóloga. 

Em setembro do ano passado, a reportagem de O Tempo mostrou a denúncia de pais e responsáveis pelos alunos da Escola Estadual Senador Melo Viana, em Moeda, na região Central de Minas Gerais. Segundo os relatos, os estudantes estariam utilizando drogas e praticando relações sexuais durante o intervalo entre as aulas. Um vídeo, que circulou nas redes sociais, mostrou dois alunos realizando sexo oral dentro de uma sala de aula. A prática, conforme os denunciantes, teria sido incentivada por um desafio na web.

Na ocasião, a Secretaria Estadual de Educação, que é responsável pela unidade de ensino, disse que, segundo a apuração realizada pela direção escolar, tratava-se de uma simulação feita pelos alunos e não a prática do ato em si. "A direção da escola conversou com os estudantes envolvidos e orientou quanto às condutas inadequadas em sala de aula e no ambiente escolar. Os responsáveis por esses alunos também foram chamados, juntamente com o Conselho Tutelar, para esclarecimento dos fatos", informou em nota. 

A neuropsicóloga Júlia Costa considera que a mudança dessa situação passa, principalmente, pela informação. A especialista acredita que a escola e a família não devem omitir ou ignorar os casos e que é preciso educar as crianças e os adolescentes sobre a temática.  "É chamar a criança para conversar, fazer dentro da sala de aula um trabalho do que pode e o que não pode ser feito. É ensinar as crianças, seja por desenho, brincadeiras e outros formas, onde pode e onde não pode ser tocado. É importante que a criança tenha essa informação", explica a especialista.

Costa destaca ainda que crianças e adolescentes passam por um processo de maturação sexual ou puberdade, e que isso começa em várias idades dependendo de fatores genéticos e ambientais. "O que a gente percebe, até mesmo por causa desse acesso a internet, é que as crianças e os adolescentes precisam ser cada vez mais orientados, ter uma inicialização a sexualização", completa.

É esse o cuidado que a atriz Letícia Sirlan busca ter com as suas duas filhas, de 5 e de 9 anos. "Eu sempre converso com elas, inclusive na hora do banho da mais nova. Eu não toco nela, se vou ajudar a limpar, eu peço permissão para fazer isso", relata.  A atriz considera que essa não é apenas uma das formas de educar as meninas, mas de protegê-las de situações de abusos que possam ser praticadas por outras pessoas. "Teve uma situação em que eu, com pressa, fui limpar ela e não pedi permissão. E ela brigou comigo. É isso o que eu espero, que ela questione, brigue, se alguém tocar em alguma parte dela que não deveria", conta Letícia que diz esperar por esse mesmo tipo de cuidado no ambiente escolar. "A escola precisa intervir sempre que perceber alguma situação. Conversar com os pais e ver qual a melhor forma de tratar isso com as crianças. Dá mais segurança pra gente também", completa.

A Secretaria Municipal de Educação diz que acompanha todas todas as escolas e que realiza projetos pedagógicos entre alunos e professores, para a melhoria da convivência e a segurança nas instituições de ensino. A pasta afirma que conta com "Gerência do Clima Escolar e o Plano de Convivência Escolar" e com o documento 'Escola, Lugar de Proteção - Guia de Orientações e Encaminhamentos', que auxiliam nas ações de abordagem preventiva e no tratamento das situações de violência. Por sua vez, a Secretaria Estadual de Educação informou que os casos são acompanhados conforme suas especificidades. 

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