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26/08/2024 às 11h53min - Atualizada em 26/08/2024 às 11h53min

Amazonas tem seca antecipada e recorde de queimadas em agosto; cidades estão em emergência e comunidades podem ficar isoladas

Estiagem já afeta quase de 290 mil pessoas no estado, cidades têm dificuldades de receber insumos e há aumento no preço de produtos. Ao mesmo tempo, cerca de 7 mil focos de calor em agosto, superando o mesmo período do ano passado.

Seca do rio Solimões, em Tabatinga, interior do Amazonas — Foto: Reprodução/Rede Amazônica
O Amazonas vive um cenário ambiental crítico devido à combinação de seca dos rios e queimadas. Segundo dados divulgados pelo governo estadual em agosto, a seca já afeta quase 290 mil pessoas. Cidades têm dificuldades de receber insumos, há aumento no preço de produtos e comunidades indígenas e ribeirinhas podem ficar isoladas.

Além disso, as queimadas têm registrado recordes no estado, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). No sábado (24), eram 7 mil focos registrados no mês, superando os dados de agosto de 2023.

Neste ano, segundo previsões do governo estadual, o Amazonas pode enfrentar uma seca intensa semelhante ou até pior do que a de 2023, a mais severa registrada na história do estado. Atualmente, 20 dos 62 municípios estão em situação de emergência.

Por que isso está acontecendo?

Conforme o Serviço Geológico do Brasil (SGB), a antecipação da estiagem em 2024 é atribuída ao volume de chuvas abaixo da média registrado no início de maio, o que também deve antecipar o fim do período de vazante.

Em 2024, a descida dos rios teve início antes do previsto, com reduções registradas ainda na primeira quinzena de junho. Historicamente, o fenômeno começa entre a última semana de junho e as primeiras de julho.

O ambientalista e professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Erivaldo Cavalcanti, explicou que dois fenômenos naturais têm sido determinantes para os níveis dos rios.

"O fenômeno El Niño associado a La Niña são os fatores naturais que mais influenciam na normalidade hidrológica da região, com um impacto determinante na mudança climática e a ação humana através de queimadas e desmatamentos", apontou o especialista.

Os efeitos dos dois fenômenos são opostos. Enquanto o El Niño provoca seca na Região Norte e chuvas intensas no Sul do Brasil, o La Niña traz chuvas intensas para o Norte e o Nordeste e estiagem na região Sul.

Já a seca, que serve como ignição para os focos de incêndio, soma-se às queimadas ilegais. Geralmente, a estiagem acontece de agosto a outubro, mas o pico acontece em setembro, quando sentimos mais os impactos. No entanto, meteorologistas explicam que ela chegou antes do previsto, ainda em julho.

A estiagem nos rios

Em Manaus, o Rio Negro baixou quase dois metros apenas em agosto deste ano, atingindo um nível crítico de vazante. Na sexta-feira (23), a medição registrou 21,93 metros, de acordo com o Porto da capital, responsável pela aferição dos níveis. Na mesma data, em 2023, a marca era de 24,83 metros.
A situação é semelhante nas bacias do Alto Solimões, Médio Solimões e Médio Amazonas, segundo o monitoramento do PROA - Praticagem dos Rios Ocidentais da Amazônia, na sexta-feira (23):
  • Em Tabatinga, no Alto Solimões, o nível do Rio Solimões era de 4 centímetros;
  • Em Coari, no Médio Solimões, as águas mediam 6,46 metros;
  • Já em Itacoatiara, no Médio Amazonas, o Rio Amazonas estava em 8,22 metros.
As cidades do Alto Solimões, como Tabatinga, estão em situação mais crítica, com dificuldade para receber insumos e água potável. Em Envira, na fronteira com o Acre, a seca provocou um aumento de até 100% no preço de alguns alimentos. Já no Centro de Manaus, o valor quilo da macaxeira e da laranja aumentaram, e os feirantes temem a escassez dos produtos nos próximos dias.

A seca no estado também causa preocupação no Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM), que optou por antecipar o envio das urnas eletrônicas para os municípios do interior em um mês.

Recorde de queimadas

Simultaneamente, o Amazonas enfrenta um aumento significativo nas queimadas, que têm provocado novas ondas de fumaça. Em agosto, foram registrados mais de 7 mil focos de calor no estado, contra 4 mil no mesmo mês em 2023. Em julho, o estado alcançou o maior número de queimadas dos últimos 26 anos.

Apenas em agosto, um incêndio atingiu uma área de mata próximo a um estaleiro no município de Manacapuru e quase atingiu embarcações que estavam atracadas no local. Em Boca do Acre, o fogo das queimadas quase alcançou uma área residencial e em Apuí, um incêndio de grande proporção atingiu uma área de pasto.

Os principais focos de calor estão localizados na região sul do Amazonas, onde há uma significativa presença da pecuária. O Corpo de Bombeiros destaca que muitos incêndios em áreas de vegetação são causados por ação humana.

Os efeitos das queimadas também foram sentidos pela população - houve fumaça no sul do estado e em Manaus uma densa "neblina" de fumaça encobriu a cidade por quatro dias. A fumaça resultante dos incêndios chegou até a Região Sul do país.

Comunidades ameaçadas de isolamento

Um estudo publicado na revista Communications Earth and Environment em julho deste ano revela que mais de 2,2 mil comunidades ribeirinhas e aldeias indígenas podem enfrentar isolamento durante a seca deste ano. O problema já afeta algumas das localidades.

Assinado por oito pesquisadores, o estudo aponta que a Amazônia está se tornando cada vez mais seca e sujeita a eventos extremos como secas e inundações.

A pesquisa destaca que essas condições podem interromper totalmente a navegação, afetando desproporcionalmente as comunidades rurais e levando ao isolamento de aldeias por semanas ou meses, com consequências graves como escassez de alimentos e suprimentos médicos.

O estudo identificou 3.671 localidades na bacia amazônica, incluindo 3.259 assentamentos rurais remotos, 251 cidades (com 5 capitais estaduais) e 161 aldeias, além de 2.521 aldeias indígenas. Entre essas, 1.495 localidades não indígenas e 755 aldeias indígenas no Amazonas estão mais propensas ao isolamento devido à seca.

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