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10/03/2021 às 07h49min - Atualizada em 10/03/2021 às 07h49min

​Fechamento recorde de empresas afeta a economia e a saúde mental

Estudo mostra que empreendedores têm nível de sofrimento psíquico equivalente ao apresentado pelos profissionais da saúde na pandemia

A instabilidade financeira é reflexo de uma realidade que atinge em cheio comércio e serviços. Nunca se fecharam tantas empresas como no ano passado. A pandemia abalou não apenas os negócios, mas também a saúde mental dos empresários. É que, junto com os prejuízos, vieram os sintomas de depressão, ansiedade, estresse e insônia diária.

De acordo com a analista de relacionamento do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae-MG) Laurana Viana, o medo de ter que demitir era também a maior inquietude dos empresários que buscaram orientação na instituição para enfrentar a pandemia. “Ouvimos vários relatos de patrões muito tristes ao pensarem que teriam que demitir chefes de família, que não teriam mais como colocar arroz e feijão na mesa. Pelo semblante deles, a gente já conseguia sentir o quanto a situação estava gerando tristeza. Ouvimos muitos casos de insônia e crises de ansiedade”, afirma a analista.

Em Minas Gerais 41.436 empresas foram extintas em 2020, número 5,5% maior do que em 2019 –, na depressão também não está. “Muitos empresários estão desesperados. Tem muita gente completamente endividada, perdendo o patrimônio para bancar os negócios. A pressão é muito grande. Eu duvido que tenha algum comerciante que durma oito horas por dia”, conta o presidente da Associação de Lojistas do Hipercentro, Flávio Froes Assunção.

Fecha tudo que não for essencial! Para o comércio, essa determinação de março de 2020, que tinha como objetivo barrar o avanço da Covid-19, restringiu muito mais do que a circulação de pessoas. Sem vender, a renda caiu, e, quanto mais os lucros despencavam, mais as preocupações disparavam. A situação tirou o sono de empregadores e funcionários.

Estudo mostra que empreendedores têm nível de sofrimento psíquico equivalente ao apresentado pelos profissionais da saúde na pandemia. As incertezas quanto à vida e aos negócios criadas pelo contexto da pandemia têm mexido com a cabeça de empreendedores. Oito de cada dez deles apresentaram sintomas, mesmo que em níveis baixos, de estresse, ansiedade e depressão. O levantamento, feito pela aceleradora Troposlab em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mostrou ainda que a saúde mental desses empresários foi afetada em graus parecidos com o que ocorreu com os profissionais da saúde envolvidos no combate à Covid-19.

“Os mesmos pesquisadores da UFMG que atuaram nessa pesquisa estavam estudando a saúde mental dos profissionais de saúde, por isso conseguimos comparar. O que ocorre é que os dois grupos estão imersos nessa crise imposta pelo avanço da doença e convivendo com os desafios que o vírus trouxe”, explica uma das responsáveis pelo estudo, Marina Mendonça de Sousa.

A pesquisa comprovou também que, quanto mais o empreendedor sente o ambiente de negócios incerto, maiores são os níveis de adoecimento psicológico, e vice-versa. “A vida de empreendedor já é desafiadora e precisa ser vivida muito no dia a dia em contextos normais. Mas o excesso de preocupação com gastos fixos, funcionários, financiamentos e o futuro do negócio serve como uma barreira que bloqueia a ação. Ao mesmo tempo, o cérebro não para de funcionar, e isso vai te oprimindo”, descreve.

Na avaliação da analista de relacionamento do Sebrae-MG Laurana Viana, ao mesmo tempo em que a pandemia trouxe tantas incertezas, também despertou em muita gente a necessidade de mudar. “No Brasil, o comércio é tradicionalmente de rua, as pessoas entram, pegam os produtos, experimentam. Antes, a gente tinha muito menos cultura de vendas online. Com o isolamento, muita gente teve dificuldade, mas foi preciso se adaptar rápido. A forma de reagir interfere na saúde mental. Quando a pessoa está numa situação depressiva, é como se tivesse um muro, e ela tem escolhas: ou escala, ou derruba, ou não faz nada. A pandemia foi um grande muro para os empresários. Muita gente foi afetada, mas muitos conseguiram se adaptar”, afirma.

O empresário Marcus Jardim, presidente do Grupo de Academias Responsáveis (Gari), tem usado todas as forças para escalar esse muro e, por muitas vezes, se sente exausto. “Eu tinha sete academias e tive que fechar cinco delas, demiti umas 120 pessoas. Tive que vender minha casa confortável, com piscina, e agora durmo em um colchão na casa do meu pai com minha esposa e meus dois filhos. Estou ansioso, nervoso, intolerante, depois de 12 anos voltei a beber para conseguir dormir. Se eu não tivesse o apoio da minha mulher, já teria dado um tiro na minha cabeça”, conta.

Ele diz ter certeza de que está em depressão, mas se sente impotente até para buscar ajuda profissional. O foco é administrar as academias que restaram. “Nossas academias ficaram muito tempo fechadas, e, quando os clientes começaram a ter confiança para voltar, tudo fechou de novo. Vamos ter que fazer um trabalho muito grande para retomar”, diz.

Só no comércio de Belo Horizonte, pelo menos um de cada quatro empresários (27,6%) já teve algum sintoma de depressão e ansiedade durante a pandemia, que tirou o sono de 57,1% deles e gerou taquicardia em 42,9%. Os dados são da pesquisa que a Câmara Dirigentes Lojistas (CDL-BH) fez com exclusividade para a série de reportagens “Tá tudo bem?”. Segundo o levantamento, o maior medo (35,5%) é o de quebrar o negócio.

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