Oia Notícias Publicidade 728x90
28/02/2022 às 13h47min - Atualizada em 28/02/2022 às 13h47min

Norte de Minas sofre com enchentes mesmo após trégua nos temporais

Estão na lista de Guedes os Correios, o Porto de Santos, a Eletrobras e a PPSA, a estatal que administra o sistema de partilha de petróleo do pré-sal

Estado mais castigado pelas cheias na atual estação chuvosa, de acordo com o Sistema de Alerta de Eventos Críticos (Sace) do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM), Minas Gerais tem municípios sob influência de um fenômeno que prolonga os danos à população para além dos períodos de temporais mais intensos.

Na bacia em situação mais crítica no estado, segundo o monitoramento, a do Rio São Francisco, municípios e populações sofrem com uma condição que pode ser classificada como “enchente em seca”: mesmo após vários dias sem chuvas intensas, diante da trégua na maior parte do estado, essas localidades têm comunidades inteiras debaixo d'água como resultado do excesso de precipitação registrado dias antes a montante da bacia, devido à água drenada de regiões como a Grande BH.

O monitoramento do CPRM aponta que, dos cinco municípios em situação mais crítica às margens do chamado Rio da Integração Nacional, quatro ficam em Minas (Pirapora, São Romão, São Francisco e Pedras de Maria da Cruz), e apenas um em Sergipe, já próximo à foz (Propriá).

A Bacia do Rio São Francisco é atualmente a que enfrenta piores cheias entre 17 monitoradas pelo Sistema de Alerta de Eventos Críticos no país. No município que leva o mesmo nome do rio, o Velho Chico chegou a se elevar a cerca de 10 metros segundo medição de sexta-feira, mesmo após cinco sem chuvas intensas. 

A medição é um metro e meio superior à cota de inundação e mais de três metros e meio acima do nível de alerta. É a pior condição no estado, onde o boletim aponta inundações também na bacia do Rio Doce (Ponte Nova, Tumiritinga e Governador Valadares) e alerta na Bacia do Rio Muriaé.

A situação nas cidades que margeiam o São Francisco no Norte de Minas, a partir de Pirapora, reflete em grande parte os temporais registrados na Região Metropolitana de BH, já que o Velho Chico recebe diretamente em sua calha as águas do Rio das Velhas, que corta a Grande BH e deságua no leito principal no distrito de Barra do Guaicuí, parte do município de Várzea da Palma, abaixo de Pirapora.

Sofre também a influência do Paraopeba, que passa pelo aglomerado metropolitano, onde inundou várias cidades antes de chegar à represa de Três Marias, barramento na cidade de mesmo nome, no leito do Rio São Francisco e acima de cidades como Pirapora.

COMPORTAS ABERTAS 

Devido ao excesso de chuvas, desde o fim de janeiro a Cemig abriu as comportas do reservatório da hidrelétrica de Três Marias, e o volume liberado na calha do São Francisco foi aumentando gradualmente até ultrapassar os 3 mil metros cúbicos por segundo (m3/s) – chegou a 3,016 mil m³/s na última quinta-feira, último dado disponível, quando o reservatório atingiu 93,4% de sua capacidade. Para efeito de comparação, em 1º de janeiro a represa acumulava 52,4% de seu nível máximo e a vazão era de 153m³/s – quase 20 vezes menor que a atual.

A situação ajuda a explicar por que as comunidades ribeirinhas sofrem com inundações e são expulsas de suas casas, mesmo fazendo sol na região, que é mais conhecida pelo clima seco. São igualmente atingidos os moradores das ilhas do São Francisco, invadidas pela água – os ilhéus tiveram que buscar refúgio em “terra firme”.

O município de São Francisco, de 56,3 mil habitantes, é o que registra maior nível do São Francisco de acordo com boletim mais recente do CPRM, de sexta-feira (25/2), com 9,94 metros, contra uma cota de inundação que é de 7,5 metros. Segundo o coordenador municipal de Defesa Civil, Romenig Barbosa Martins, 500 moradores de comunidades ribeirinhas ficaram desalojados depois que suas casas foram invadidas pela cheia do Velho Chico. Outras 400 pessoas no município tiveram perdas com a inundação.

Segundo Romenig, pelo menos 24 comunidades rurais às margens do Velho Chico no município foram inundadas. Além de terem que deixar suas moradias às pressas rumo às casas de amigos e parentes, os moradores perderam lavouras, eletrodomésticos e outros bens de consumo. A Prefeitura de São Francisco montou abrigos em uma escola e em duas creches municipais para receber os desalojados.

DIQUE DE PROTEÇÃO 

O coordenador da Defesa Civil de São Francisco informou que, além das comunidades rurais, dois bairros da cidade tiveram ruas e casas atingidas pela cheia do Velho Chico: Luzia e São José. As consequências na sede de município só não foram piores por causa do dique de proteção contra inundações, construído logo após a grande enchente de 1979 – obra também realizada na mesma época nos municípios norte-mineiros de Pirapora e Januária.

Uma das áreas invadidas pela enchente do Velho Chico no município de São Francisco é o Assentamento São Francisco II. Todas as 60 famílias da área da reforma agrária tiveram que deixar suas casas, que foram invadidas pela água. Além de ficarem desalojadas, perderam móveis, colchões, geladeiras e outros eletrodomésticos, assim como animais domésticos. As plantações de milho, feijão e mandioca também ficam submersas e foram destruídas.

“Estamos pedindo a Deus para a água baixar e nossas casas ficarem de pé, para que a gente tenha condições de voltar para o assentamento e tocar a vida”, afirma Roney Aparecido Ferreira de Jesus, de 39 anos, presidente da Associação Comunitária do Assentamento São Francisco 2. Ele também ficou desalojado pela enchente e conseguiu abrigo na casa de uma parente na sede do município.

Roney conta que em muitas casas do assentamento o nível da água subiu em torno de dois metros, ficando à mostra praticamente só o telhado. Doze famílias buscaram abrigo na sede da antiga fazenda onde foi instalado o assentamento. “Mas a situação é muito precária. Já apareceram várias cobras nos barracos ocupados pelas famílias”, afirma o líder comunitário.

O produtor rural José Astério Rodrigues, de 43, relata que a enchente do Velho Chico provocou muitas perdas e invadiu moradias na localidade de Porto Velho, onde ele vive, no município de São Francisco. “Pessoas da comunidade estão tendo que usar barcos para sair de casa”, afirma José Astério, cuja moradia fica em um ponto mais alto e não foi alagada.


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Oia Notícias Publicidade 1200x90
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp